Há três anos afastado da vida política, Nuno Morais Sarmento contou, em entrevista à RTP, como esteve entre a vida e a morte. O ex-ministro enfrentou o maior desafio da sua vida ao ser diagnosticado com um cancro no pâncreas.
"Estava a recuperar de um problema oncológico e entrou isto. E 'isto' foram três anos da minha vida. Um primeiro ano sem diagnóstico e progressivamente incapacitado", começou por contar o militante do PSD, explicando que deve a sua vida a dois médicos que, no espaço de 15 dias, perceberam o que se passava.
"Perdi um ano e meio escusadamente. Avancei para uma operação. Tratava-se de um insulinoma, um tumor no pâncreas", continuou.
Depois da cirurgia, a situação clínica de Morais Sarmento, de 63 anos, complicou-se.
"Seguiram-se 18 meses de hospital, 12 cirurgias, 16 anestesias gerais, cinco meses de cuidados intensivos. Foi de uma violência...", recordou, acrescentando que nem tudo está ultrapassado.
"Não me recordo de um único dia nos últimos três anos em que não tenha dores. Chega a um ponto que já não se tem resistência. Nunca conseguiria aguentar sozinho", disse, afirmando que
"não estaria aqui" sem o apoio da mulher, Filipa, e da
"força e energia" das pessoas que o acompanharam.
"Era uma sensação quase física, que vejo como uma espécie de 'mão de mãe'".
O antigo ministro revelou ainda que, por duas vezes, os médicos chamaram os seus filhos para se despedirem dele.
"Uma vez estava inconsciente e outra não. Não me esqueço dos olhos da minha filha, do desespero, da zanga, da súplica... Era um mundo de sentimentos naqueles olhos... Não esqueço isso porque, ao fim e ao cabo, foi mais uma situação em que fiz sofrer aqueles que me são mais próximos."
Sobre a experiência de quase morte, Morais Sarmento não tem dúvidas: a vida não termina aqui.
"Tenho a perfeita consciência de que tive um pé cá e um pé lá. Não vi um túnel com uma luz ao fundo, se calhar porque não vou para o Céu. Vi uma realidade disforme, errada, desconstruída - não sei como explicar melhor do que isto - que me fez resistir e não querer passar. Não sei o que era o depois, mas há uma certeza - tudo isto trouxe-me várias certezas positivas - que me deu paz: isto não acaba aqui. Não sei o que é mas tenho a absoluta certeza de que a vida não acaba aqui", assegurou o militante do PSD.
E concluiu:
"Esta experiência trouxe-me uma sensação de fragilidade e de finitude que não tinha antes. Ficamos completamente na mão de outros, seja dos médicos seja de quem nos olha lá de cima. E percebi que os outros são a razão de ser da nossa vida e que esta deve ser aproveitada. Isto é um tempo extra, não era suposto eu estar aqui, por isso não há mais adiamentos".